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Helicóptero não podia se ausentar do estado do Rio de Janeiro, como fez para transportar Ricardo Medeiros de Oliveira até Juiz de Fora. Depois de nove anos de espera, morador de Petrópolis foi avisado sobre cirurgia no alto da Serra dos Órgãos.
A urgência para realização de um transplante de rim fez com que bombeiros do Rio de Janeiro quebrassem protocolo ao buscar o condutor de atrativos naturais Ricardo Medeiros de Oliveira no topo da Pedra do Sino, na região da Serra dos Órgãos, entre Petrópolis e Teresópolis.
“Temos vários protocolos a serem seguidos. Imediatamente determinei que esses protocolos não fossem e que o grupamento de operações aéreas resgatasse esse paciente encaminhando-o ao hospital. E foi isso que foi feito”, explicou o coronel Leandro Sampaio Monteiro, secretário de Estado de Defesa Civil (Sedec-RJ) e comandante-geral do Corpo de Bombeiros.
De lá, ele foi levado para a Santa Casa de Misericórdia, em Juiz de Fora.
“Por volta das 9h, recebi uma ligação totalmente atípica: um paciente que estava nove anos na fila de espera de transplante de órgãos havia acabado de receber ligação que ele havia sido contemplado. Só que esse paciente estava numa trilha famosa, num local de difícil acesso e, para isso, precisaria do nosso helicóptero para resgatar o paciente e encaminhá-lo para o hospital em Juiz de Fora”, complementou.
Ao todo, 10 militares participaram da ação e duas aeronaves foi utilizada: uma do resgate no cume e outra no transporte até a cidade mineira.
O coronel festejou o sucesso da ação. “No final nós chegamos a tempo, o paciente realizou a cirurgia e nós estamos muito felizes. Essa é a missão do nosso Corpo de Bombeiros, salvar vidas”.
Médica surpresa pela disponibilidade
De acordo com a médica nefrologista Juliana Bastos, várias ligações foram feitas para o celular de Ricardo.
“Ele já tá inscrito conosco há quase 10 anos e, infelizmente, é comum acontecer do paciente trocar de telefone e não avisar. Uma coisa que é de praxe é a gente ligar para a hemodiálise. Como eles vão até a clínica três vezes por semana, sempre alguém lá tem o contato deles. E foi assim que procedi: liguei, falei com a assistente social, falei com a enfermeira e ela me contou que nos fins de semana o Ricardo fazia trilha na montanha”.
A médica chegou a acreditar que não haveria como o paciente receber o rim, mas acabou atendendo o pedido da enfermeira, que pediu um tempo maior para tentar achá-lo.
“Ela [enfermeira] me falou que tinha achado ele na Pedra do Sino e aí, de repente, me liga um tenente do Corpo de Bombeiros, se identificando como tal, confirmando a história, se eu realmente estava convocando aquele paciente para o transplante e me dizendo que ele conseguiria um helicóptero para buscar o paciente. Na hora, para te falar a verdade, eu não acreditei que fosse dá certo”.
A disponibilidade surpreendeu a médica. “Nunca vi isso acontecer. Às vezes a gente até precisa desse tipo de apoio para transportar o rim, que às vezes tá numa cidade que a gente não consegue voo comercial, algo neste sentido, e é difícil. A gente até consegue, mas é complicado. Então, achei de uma disponibilidade, no sábado”.
Para ela, a energia de Ricardo também chama atenção.
“É um paciente que estava há 10 anos aguardando. Eu não sei quanto teria outro rim para ele. Vai demorar mais 10 anos? Será que ele tem esse tempo para esperar? É muito raro um paciente como o Ricardo, doente renal crônico há tanto tempo, que tem essa disposição física, essa energia. Isso não é o comum se você visita uma clínica de diálise. Acho que esse transplante dará para ele a liberdade que ele tanto merece”.
Corrida contra o tempo
O cirurgião vascular Márcio de Souza, da equipe de transplante da Santa Casa de Misericórdia, explicou a necessidade do transplante imediato do órgão recebido.
“O intervalo de tempo em que o rim é retirado do doador, onde quer que ele esteja, e que ele é reimplantado no receptor e a circulação retorna é um dos fatores que mais determinam a boa evolução e o prognóstico deste rim implantado. A partir do momento que a circulação do órgão é interrompida para ele ser retirado, mesmo utilizando as soluções de preservação modernas que a gente tem hoje, o órgão começa a sofrer lentamente a degradação. Então, as células desse órgão começam a perder a função. Quanto antes essa circulação retornar, melhor o prognóstico, melhor a evolução e melhor o resultado. É sempre uma corrida contra o tempo”.
Ele explica o processo de integração entre as redes de transplante.
“O sistema de transplante é muito mais complexo que a gente imagina. São muitas pessoas envolvidas, em vários lugares diferentes, coordenadas pelo Sistema Nacional de Transplantes”.
G1