Compatilhe esta publicação: Twitter Facebook Google+

A redução da população de abelhas é um problema sério para a agricultura mundial. Isso porque a produtividade agrícola e boa parte da biodiversidade dependem delas para a polinização. Estima-se que os serviços prestados pelas abelhas somam milhões de euros a cada ano, uma vez que a eficácia na polinização aumenta em 96% o rendimento de algumas culturas. Dentre as causas da redução desta população, está o uso excessivo de agrotóxicos. Agora, porém, um estudo produzido na UFV foi além do que já se sabia sobre as consequências dos defensivos agrícolas na redução dos enxames. Os pesquisadores verificaram que grãos de pólen contaminados levados pelas abelhas para alimentar as colmeias afetam até mesmo as suas larvas.

Produzida no Programa de Pós-Graduação em Biologia Celular e Estrutural, a pesquisa se concentrou nos neonicotinoides, produtos usados por um quarto do mercado global de pesticidas e já considerados de grande impacto sobre os polinizadores. Os autores do trabalho avaliaram o efeito do inseticida encontrado em grãos de pólen levados para colmeias de Apis mellifera – principal espécie presente em grandes culturas agrícolas. “Já sabíamos que pesticidas, ainda que em concentrações muito baixas, afetavam a sobrevivência e o comportamento das abelhas adultas, mas os efeitos ainda não haviam sido avaliados nas jovens (larvas). Além disso, a maioria dos estudos com defensivos químicos em abelhas raramente utilizava testes com concentrações residuais encontradas em plantas”, explicou o professor José Eduardo Serrão, do Departamento de Biologia Geral e orientador do trabalho.

Os pesquisadores esclarecem que os grãos de pólen são a principal fonte de alimentos para o crescimento das larvas. Elas comem pólen em grande quantidade por seis dias e depois passam pela metamorfose para se transformar em abelhas. Na pesquisa em laboratório, eles alimentaram as larvas com minúsculas doses de um neonicotinoide comumente encontrado no pólen, simulando o que acontece em condições naturais. Para verificar os efeitos, analisaram as células do intestino e do corpo gorduroso, antes de ocorrer a metamorfose. A conclusão é que, mesmo nessas concentrações muito baixas, o inseticida causa muitos danos aos órgãos internos das larvas. Não provocam a morte, nem impedem a metamorfose, mas afetam a longevidade das abelhas adultas.

José Eduardo Serrão explica que os órgãos danificados tendem a comprometer a duração do tempo de vida, a rotina e a eficiência de polinização das abelhas adultas. Isso porque, em geral, apenas as abelhas mais velhas é que saem da colmeia para fazer a coleta de grãos de pólen nas flores das plantas, realizando o serviço de polinização. Além disso, os danos causados afetam a formação de vários órgãos da abelha adulta, pela falta de nutrientes durante a metamorfose, o que pode resultar em mudanças no comportamento destes insetos. “A eficiência da coleta de alimentos fica reduzida, comprometendo a sobrevivência da colmeia e o serviço de polinização”, disse.

Para os autores, todos eles da UFV, o trabalho demonstrou que os resíduos do neonicotinoide encontrado nos grãos de pólen prejudicam indivíduos, colmeias e o meio ambiente. Os resultados contribuem para o estabelecimento de políticas públicas visando à produção sustentável de alimentos. “Se o inseticida é importante para o controle de pragas agrícolas, é preciso avaliar melhor a quantidade de uso, o número de aplicações e o efeito tóxico para as abelhas. Isso pode incluir a substituição dele por inseticidas que não persistam nos grãos de pólen ou que não causem danos para as abelhas”, afirmou o professor José Eduardo.

O trabalho foi publicado na revista Science of the Total Environment, um dos mais importantes periódicos científicos sobre avaliação de riscos ambientais.

A pesquisa contou com financiamento da Fapemig, Capes e CNPq.

A pesquisa citada nesta matéria está alinhada aos itens 2 (Fome Zero e Agricultura Sustentável) e 12 (Consumo e Produção Responsáveis) dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

UFV

Comentários